"Doutor, chamei seu paciente por engano"
Ao fundo, empurrada pelo marido e um par de rodas, aparece uma menina.
Ô abram alas, que eu quero passar...
Será ela estava mesmo pensando nisso??? Provavelmente não; a horda apenas se abria pra ver passar aquele rosto sofrido de apenas 26 anos que tinha viajado por seis horas para chegar lá, onde ela acreditava que poderíamos ajuda-la. Eu, contudo, naquele momento sabia que não.
"Bom dia, meu nome é esse e estou aqui para lhe atender hoje"
"Trouxe os exames Doutor"
"Infelizmente, querida, tenho de lhe dizer que continuamos sem decifrar de onde vem sua angústia. Já lhe demos 50 poções mágicas que lhe mudaram os humores, lhe observamos sob todos ângulos, caminhos e orifícios, e a vimos brilhar como qualquer outro sequer pode imaginar. A Natureza, contudo, é de natureza indecifrável e permanecemos sem conhecer a doença que te afeta. Afirmo que teremos de continuar esta penosa e infinita investigação para podermos atingir o ponto a partir do qual iremos buscar a solução do segundo problema; e quando este estiver resolvido - e caso estejas ainda viva até lá, querida - poderemos começar a lhe considerar próxima de curada. Entende?"
O Marido segura as lágrimas.
Ela se contorce por dentro, quem sabe, mas serenamente diz que deve continuar seu simples caminho.
Como se deve fazer para avisar uma pessoa da morte (incerta talvez) eminente? Como ela, sabendo mas pouco entendendo, vai "seguir seu caminho" junto com seus tumores de fígado e estômago e toda uma vida pela frente? "A vida que poderia ter sido e não foi" caminha para onde? Não sei. E o que dizer à dona de tal vida então??
"É verdade que a esperança
se deve regar com orvalho?"
Pablo Neruda
El livro de las perguntas
Nenhum comentário:
Postar um comentário