terça-feira, 13 de novembro de 2007

O exemplo de Sakkara e da força do desejo de Um

upload feito originalmente por Gabriel Mococa.

Cinco mil anos atrás Djoser, um Ser-Humano que já não mais consideirava ser humano - tantas eram as forças convencendo-o de ser um Deus - pediu ao seu arquiteto Imothep que construísse um túmulo digno de sí. Pela primeira vez, então, foram empilhados túmulos planos, e obteve-se a primeira pirâmide da história (quem sabe, diverge-se, a primeira grande edificação humana): A Pirâmide de Degraus do Planície de Sakkara. Aos fundos da pirâmide está a tumba mortuária. Por um pequeno orifício podemos observar o descanso eterno daquele que se considerava um Deus e - por isso - levou os Homens à criar a primeira grande edificação da história. Recuperando a imagem que já paira na minha memória antiga, penso que há sobre o que refletir após tanto tempo. Imaginem um bebê. Desde seu primeiro contato com o mundo (e com certeza mesmo antes disto) ele teve estímulos sensoriais privilégiados em relação a todos que o cercavam. Enquanto os outros bebês repousavam em palha junto com camelos e brincavam com a areia do deserto, ele desfrutou de artefatos e brinquedos multicoloridos, sabores mais curiosos, estudos mais refinados e um chão mais gostoso de pisar. Quando ele virou uma pequena criança, passou a compreender que seus pais - suas figuras máximas e de representação - podiam Querer mais do que os outros; e mais do que isto: Todos insistentemente o lembravam de que ele seria ainda mais do que aquilo. Será que ele teve crise de adolescente? Esbravejou e achou que não queria ser Onipotente? Percebeu que era um Ser do Desejo e que, mesmos estes satisfeitos, ele iria querer mais? Eu acho que não. Creio que ele realmente nasceu e por todo segundo da sua vida acreditou ser um Deus que pairava e podia obter entre os Homens. O por quê dele ter desejado se imortalizar não me cabe especular aqui. Talvez por inovação à tradição, talvez por megalomania ou senso estético; sei lá e isto pouco interessa. O que me interessa perceber aqui é o fato de ele DESEJOU ser imortalizado daquela maneira, e que somente isto bastava para que, por todo seu reinado, homens morressem para construir apenas o que aquele Ser-(quem sabe)-Humano desejou.

A força do desejo de um só indivíduo fez com que a toda a civilização humana progredisse. É Humana tal natureza? Como Ele e ele lidaram com isso? E como lidou Djoser com o fato de lhe ser recoberto por toneladas de pedras e visível apenas por um pequeno orifício? Terá ele aprendido com a PERDA de toda aquela visibilidade e com sua RESTRIÇÃO à uma pequena entrada de luz? E terá ele aprendido com todos os olhos cintilantes de curisiodade que o fitaram ao longo destes 5000 anos?

Com o que aprenderia o Ser-Humano? Com o que aprenderia o Deus?

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei da articulação do raciocínio, Gabriel. Megalomania à parte, a história da civilização passa por ali. Acho que você é a única pessoa que conheço que já visitou o Egito. Espero um dia ainda pintar por lá.